Aquele sorriso de garoto traquina, sempre.
Um miudo que aprendeu a viver com a vida dificil e a superar a doença desde tão novo que, se calhar, ainda não poderia compreendê-la.
A simpatia irradiante quase permanente.
A qualidade do que fazia; a abrangência e o saber; a disponibilidade.
Não se é maestro, - ninguem consegue ser - sem que implicitamente os musicos à sua frente lhe outorguem esse direito. Esse reconhecimento de mestrança e de saber.
Não se vira maestro como se quer, nem quando o título nos ficaria bem . Muitos anos de música podem mesmo assim não chegar.
Há acima de tudo que merece-lo e justificá-lo.
Mas o Zé era-o naturalmente, sem esforço nem vaidade. Maestro também nos equilibrios da periclitante e aloucada vida de músico, o Zé abraçava causas. E surpreendia sempre.
A sua imensa capacidade de trabalho esquecia talvez uma condição de saúde menos vigiada. Quem poderá saber...
O seu riso brincalhão e a sua competencia conseguiam conviver fraternalmente. Isto é - nunca o vi apoucar um músico pra tentar que ele soasse melhor.
Sabia dirigir e sabia corrigir sem nunca humilhar nem denegrir. Sabia tirar o melhor de todos com a energia da sua competencia e da sua extrema simpatia e cordialidade.
Sem querer acho que cheguei lá. Curioso...
Cor, cordis... em latim... pois é! O Zé morreu de cordialidade.
De tanto por o coração demais na vida, a vida pos-lhe fim ao coração.
Fica agora em nós, para sempre o sorriso e o abraço nunca dado.
O até amanhã companheiro com que morreu.
E os olhinhos de criança, lá no fundo, continuarão a brilhar.
Brutas sinfonias, Zé!
Até um dia destes, muito breve.
Que o tempo, ao que parece, nada vale.
Pedro Barroso/ musico