Não resisto a voltar a deixar mais um testemunho do que o Zé me deixou na memória, tentando exorcizar o meu desgosto pela sua partida tão abrupta, tão cruel para todos - e eram muitos - quantos gostavam dele de verdade.
A tua disponibilidade. Estavas sempre disponível para o outro, fosse ele um filho teu, um dos teus cães, eu, alguém que te telefonasse, a tua mulher...lembro-me quando estávamos a gravar o "Contraluz", a Iva entrar com o Alexandre (ainda bébé de colo) na sala onde trabalhávamos, porque ele não adormecia. Então tu interrompias o que estavas a fazer, pegavas no teu filho ao colo e tentavas acalmá-lo. Muitas vezes com sucesso. E sem perder a calma. Como dizia a Né antes de ontem, o mundo podia estar a ruír à tua volta e tu continuavas com aquela expressão de criança feliz, a tua voz serena, como que alheio às tempestades...disponível, sempre disponível...
Estou a pensar nisto e sinto um nó no estômago. Ainda não acredito. Que saudades, Zé, que falta que já nos fazes...
Isabel Campelo